Acervo do Centro Histórico: piano de mais de cem anos incentiva a educação musical entre alunos e funcionários do Mackenzie
São Paulo, 21 de fevereiro de 2025.
Cerca de quatro vezes por semana, Juan Carlos Almeida, aluno do sétimo semestre do curso de Administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), escapa da rotina entre o trabalho e a faculdade para ir até o Prédio 1 do campus Higienópolis, onde toca piano e encontra uma espécie de paz em meio à correria do dia a dia.
“Quando estou tocando, me sinto calmo. Me relaxa, sabe? Ajuda a desacelerar e espairecer a cabeça”, relata ele.
Juan se arriscou nas teclas pela primeira vez aos quinze anos e, pouco tempo depois, começou a fazer aulas para aprimorar a habilidade. Anos mais tarde, ao iniciar sua jornada acadêmica no Mackenzie, visitou o Centro Histórico e Cultural Mackenzie (CHCM) e descobriu um espaço onde podia praticar seu hobby por meio do Projeto Piano Livre.
“Lá no primeiro semestre, passei pelo prédio uma vez e vi uma pessoa tocando. Perguntei como fazia para tocar, e ele me explicou o processo de cadastro. Então, nunca mais parei de vir”, conta o aluno, que hoje é um dos pianistas mais assíduos do projeto e já foi convidado para tocar em eventos solenes do CHCM.
A história do Piano Livre
O projeto Piano Livre surgiu informalmente em 2004, quando o piano de 1911 foi restaurado junto ao Edifício Mackenzie e se tornou um acervo histórico acessível ao público interno. No entanto, os detalhes da história desse icônico piano de armário ainda são desconhecidos.
“Não se sabe bem como o piano chegou ao Prédio 1. A gente imagina que ele devia fazer parte de alguma sala de música do colégio e foi transferido para cá como acervo. A direção do Centro Histórico achou por bem deixá-lo disponível no hall para uso dos visitantes, desde que as regras de manutenção sejam cumpridas”, explica Luciene Aranha, curadora do CHCM, que acompanha o projeto desde 2012.
Como acervo histórico preservado pelo CHCM, o piano passa por manutenção recorrente, essencial para sua conservação e bom funcionamento. Ainda assim, o tempo deixa suas marcas.
“Dentro do piano há alguns veludos, tanto na tecla quanto no martelo (onde a tecla bate), e nosso afinador especializado explicou que esse material está desgastado”, comenta Luciene.
Ela ressalta que é necessário um cuidado específico, pois as peças originais de 1911 não podem ser substituídas sem comprometer o valor histórico do instrumento, tornando sua preservação um desafio.
Como funciona o projeto
O projeto foi oficializado há cerca de vinte anos, com um mailing selecionado de alunos inscritos e algumas regras básicas. Entre elas, a exigência de que os instrumentistas utilizem o piano com sabedoria, praticando músicas inteiras de um repertório à sua escolha, sem usá-lo para aprender do zero. Além disso, devem respeitar a integridade do acervo.
Na essência, o Piano Livre incentiva a educação musical entre os alunos e oferece a eles uma oportunidade de se relacionar com essa arte de forma acessível e instrutiva.
O repertório e os participantes
Entre as músicas mais tocadas no projeto estão trilhas sonoras de filmes famosos, como Interestelar, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e animações da Pixar, como Divertida Mente e Up: Altas Aventuras. Além disso, há espaço para composições sofisticadas, como Experience, do pianista Ludovico Einaudi.
O repertório diverso reflete a variedade de participantes do projeto. Caetano Peres e Theo Brandão, alunos do Colégio Presbiteriano Mackenzie São Paulo (CPM-SP), conheceram o projeto por meio de colegas da escola.
“Fiz aula de piano até 2022, mas não tocava em casa porque meu teclado quebrou. Daí ouvi que o piano daqui era novinho e comecei a vir ao Centro Histórico para praticar no tempo livre”, conta Caetano, enquanto dedilha as teclas.
Já Theo aprendeu a tocar músicas por meio de tutoriais no YouTube e acompanha o amigo em suas visitas ao CHCM. Enquanto Caetano prefere tocar Badinerie, do compositor Johann Sebastian Bach, Theo tem uma queda pelo estilo moderno de Megalovania, do jogo Undertale.
Carolina Ribeiro, por outro lado, se formou em Design pela UPM no final do ano passado, mas continua frequentando o CHCM graças ao Piano Livre. Ela teve seu primeiro contato com o instrumento aos cinco anos, durante uma visita a um convento, e se apaixonou à primeira vista.
“Um piano ocupa bastante espaço e é um alto investimento, então gosto de vir aqui às vezes para tocar sem compromisso”, conta Carol, que aprende partituras de músicas que gosta de ouvir, como Sticky, do rapper Tyler, The Creator.
Como participar
Todos os membros da comunidade mackenzista são convidados a participar do projeto Piano Livre. Para isso, basta comparecer à recepção do Prédio 1, cadastrar-se e aproveitar o que o CHCM tem de melhor: a história e a cultura da instituição, preservadas e compartilhadas por meio do seu acervo.